Boa degustação!
Anatomia da diferença
Normalidade, deficiência e outras invenções
(Ray Pereira, Casa do Psicólogo, 2008)
Em 2003, Ray Pereira* lançou pela Casa do Psicólogo o livro Que diferença faz? Escolhas que marcam. Naquele trabalho o autor expõe o universo da deficiência a partir de um olhar existencialista, explorando flashes de sua própria história para fundamentar seu pensamento sobre a diferença e as escolhas que fazemos ao longo da vida. Em Anatomia da diferença: normalidade, deficiência e outras invenções o autor aprofunda sua discussão sobre a diferença. A deficiência, ampla e rigorosamente investigada para sua tese de doutorado, aparece agora como um instrumento para se discutir a diversidade funcional.
Anatomia da diferença situa a deficiência em um contexto histórico, cultural e vivencial que se aprofunda a cada capítulo, expondo ao leitor uma dimensão pouco explorada por autores cujo cabedal inclui, além de conhecimento teórico e visão crítica, a legitimidade conquistada pela vivência pessoal e direta com a deficiência. Temos aqui um autor que ousa abordar a diferença – e tudo o que foi socialmente construído em torno dela – com o rigor de um pesquisador, sem perder a sensibilidade, o respeito e a delicadeza fundamentais para se discutir uma questão que, sem sombra de dúvida, é essencialmente humana e comum a todos nós em alguma etapa da vida.
É fácil observar, seja na literatura ou na vida, que a deficiência está enquadrada em categorias distintas (cegos, surdos, paraplégicos...). Tal ‘critério’ tem sido usado há séculos e o prejuízo imediato dessa prática esconde uma realidade inquestionável, qual seja a de que cada pessoa é diferente, independente da forma como seu corpo funciona. Daí a tendência em se tratar a deficiência como uma manifestação que deve ser ‘curada’; ou seja, ela é percebida, senão de fato, pelo menos metaforicamente como uma doença para a qual o remédio amargo é a ‘normalização’, o ajustamento compulsório aos modelos considerados ‘normais’ pela sociedade.
Anatomia da diferença: normalidade, deficiência e outras invenções é um texto original, primoroso e atual. Tendo a diferença como ponto central, o autor discute questões típicas da contemporaneidade, como identidade, diversidade, inovações tecnológicas, a ciborguização e sua analogia com a monstruosidade, promovendo um debate intrigante em que a distinção normalidade x anormalidade perde seu sentido, da mesma forma que torna vazios os conceitos de deficiência e disfuncionalidade construídos ou retocados pela medicina e assimilados socialmente. O texto expõe de forma clara e contundente os bastidores da transformação da diferença funcional em algo nocivo e indesejável à sociedade.
Entre as crenças do senso comum e o olhar da ciência, o leitor é brindado com um texto sensível, capaz de revelar sentimentos, expectativas e realidades que não são, muitas vezes, coerentes com o preconceito e o estereótipo sociais a que as pessoas diferentes estão submetidas. Ray Pereira dá, assim, uma contribuição original e importante tanto para o meio acadêmico quanto para aquelas pessoas que desejam aprofundar seu conhecimento acerca das diferenças e da diversidade humana.
Celia Pessoa
Psicoterapeuta, Professora universitária e Mestre em Psicologia Social.
*Ray Pereira é doutor em Saúde Pública (Ensp-Fiocruz) e mestre em Psicologia Social (UGF-RJ). É graduado em Psicologia (UNESA) e Teologia (STBSB). Atua como psicoterapeuta e professor na cidade do Rio de Janeiro.
Normalidade, deficiência e outras invenções
(Ray Pereira, Casa do Psicólogo, 2008)
Em 2003, Ray Pereira* lançou pela Casa do Psicólogo o livro Que diferença faz? Escolhas que marcam. Naquele trabalho o autor expõe o universo da deficiência a partir de um olhar existencialista, explorando flashes de sua própria história para fundamentar seu pensamento sobre a diferença e as escolhas que fazemos ao longo da vida. Em Anatomia da diferença: normalidade, deficiência e outras invenções o autor aprofunda sua discussão sobre a diferença. A deficiência, ampla e rigorosamente investigada para sua tese de doutorado, aparece agora como um instrumento para se discutir a diversidade funcional.
Anatomia da diferença situa a deficiência em um contexto histórico, cultural e vivencial que se aprofunda a cada capítulo, expondo ao leitor uma dimensão pouco explorada por autores cujo cabedal inclui, além de conhecimento teórico e visão crítica, a legitimidade conquistada pela vivência pessoal e direta com a deficiência. Temos aqui um autor que ousa abordar a diferença – e tudo o que foi socialmente construído em torno dela – com o rigor de um pesquisador, sem perder a sensibilidade, o respeito e a delicadeza fundamentais para se discutir uma questão que, sem sombra de dúvida, é essencialmente humana e comum a todos nós em alguma etapa da vida.
É fácil observar, seja na literatura ou na vida, que a deficiência está enquadrada em categorias distintas (cegos, surdos, paraplégicos...). Tal ‘critério’ tem sido usado há séculos e o prejuízo imediato dessa prática esconde uma realidade inquestionável, qual seja a de que cada pessoa é diferente, independente da forma como seu corpo funciona. Daí a tendência em se tratar a deficiência como uma manifestação que deve ser ‘curada’; ou seja, ela é percebida, senão de fato, pelo menos metaforicamente como uma doença para a qual o remédio amargo é a ‘normalização’, o ajustamento compulsório aos modelos considerados ‘normais’ pela sociedade.
Anatomia da diferença: normalidade, deficiência e outras invenções é um texto original, primoroso e atual. Tendo a diferença como ponto central, o autor discute questões típicas da contemporaneidade, como identidade, diversidade, inovações tecnológicas, a ciborguização e sua analogia com a monstruosidade, promovendo um debate intrigante em que a distinção normalidade x anormalidade perde seu sentido, da mesma forma que torna vazios os conceitos de deficiência e disfuncionalidade construídos ou retocados pela medicina e assimilados socialmente. O texto expõe de forma clara e contundente os bastidores da transformação da diferença funcional em algo nocivo e indesejável à sociedade.
Entre as crenças do senso comum e o olhar da ciência, o leitor é brindado com um texto sensível, capaz de revelar sentimentos, expectativas e realidades que não são, muitas vezes, coerentes com o preconceito e o estereótipo sociais a que as pessoas diferentes estão submetidas. Ray Pereira dá, assim, uma contribuição original e importante tanto para o meio acadêmico quanto para aquelas pessoas que desejam aprofundar seu conhecimento acerca das diferenças e da diversidade humana.
Celia Pessoa
Psicoterapeuta, Professora universitária e Mestre em Psicologia Social.
*Ray Pereira é doutor em Saúde Pública (Ensp-Fiocruz) e mestre em Psicologia Social (UGF-RJ). É graduado em Psicologia (UNESA) e Teologia (STBSB). Atua como psicoterapeuta e professor na cidade do Rio de Janeiro.
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