Luciana e Miguel mal tinham acordado na novela e uma leitora desse blog, cá no mundo real, me enviou um email:
“O casal acertou de primeira, vc viu? Só em novela mesmo... rsssss”...
Sim, é novela. Na vida, nem sempre acertamos de primeira. Aliás, é bastante comum a necessidade de um período de “laboratório”, como costumo dizer. Na novela foi, sim, de primeira. Mas, aqui vai um recadinho para minha leitora, para os curiosos, para os que torcem por alguma Luciana, e também para as próprias Lucianas que estão fora da telinha:
Não importa se é a primeira ou a enésima vez. Os mais belos encontros amorosos da vida real, bem como aquele entre Luciana e Miguel, são belos não pelo aspecto ordinal do encontro, ou pela muita ou pouca experiência das pessoas envolvidas. O que determina tal qualidade é o contexto e a forma como o encontro amoroso acontece. Era a primeira vez, sim, mas havia amor, carinho e entrega sem reservas para o amor. Era a primeira vez, sim, mas havia disponibilidade e cumplicidade para encarar e assumir os riscos. Para tentar de novo, de novo e de novo, caso não conseguissem da primeira vez.
As Lucianas que tentaram e, infelizmente, fracassaram, foram prejudicadas não pela cadeira de rodas, nem pela forma ou desempenho do corpo físico. Em se tratando de sexualidade (e isto vale para todos que ainda respiram!), as cobranças, as expectativas e os falsos moralismos são piores do que qualquer lesão. Nós que apresentamos alguma diferença funcional somos contaminados (ou nos contaminamos) por um veneno ainda mais letal: o preconceito.
Sexo gostoso e gratificante NÃO combina com preconceito, desrespeito, moralismos e regras rabiscadas por terceiros. A propósito, a pior de todas as regras, é aquela vomitada por Ingrid, a mãe de Miguel. Na concepção dela, a condição de cadeirante “matou” a sexualidade de Luciana. Quando vomitou tamanha asneira, ela “fundamentou” sua afirmação dizendo ter consultado vários médicos... Talvez ela nem tenha consultado de fato. Mas, cá fora, há, sim, alguns médicos que alimentam essa “regra”...
Seja na ficção ou no mundo real, sexo gostoso e gratificante, combina com liberdade. Combina com espontaneidade e cumplicidade. Sexo gostoso e gratificante combina com sinceridade de parte a parte. Sexo gostoso e gratificante combina com vida...
Aliás, a vida, antes de se aninhar no útero, percorre as mesmas entranhas por onde brotam os fluidos do amor e do prazer. Talvez seja exatamente por isso que a vida sem amor e sem prazer é árida, triste e amarga.
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Palavras-chave: diversidade funcional; diferença funcional; pessoas com deficiência; pessoas portadoras de deficiência; pessoas deficientes; sexualidade e deficiência; psicoterapia; viver a vida; Ray Pereira.