A Livraria da Travessa (www.travessa.com.br) é um ambiente muito aconchegante e charmoso, freqüentado por intelectuais e pessoas que amam ler. Estar ali autografando é um prazer mesmo para os autores já acostumados com o sucesso. Já no finalzinho da noite de autógrafos um cliente da livraria aproximou-se de mim e pediu que eu falasse em poucas palavras qual era o ponto alto do meu texto. Falei por uns poucos minutos, enquanto ele acenava positivamente com a cabeça. O cliente levou dois livros, um para ele e outro para dar de presente a um fisioterapeuta amigo da família.
A abordagem do cliente não é um fato isolado. Falar resumidamente sobre um livro (tarefa quase impossível, eu diria) é uma solicitação freqüente. Por outro lado, fazer a mesma síntese escrevendo, especialmente escrevendo para um blog, é bem mais tranqüilo. A curiosidade daquele cliente pode ser também a sua, então, aí está um breve comentário sobre o livro Anatomia da diferença.
A abordagem do cliente não é um fato isolado. Falar resumidamente sobre um livro (tarefa quase impossível, eu diria) é uma solicitação freqüente. Por outro lado, fazer a mesma síntese escrevendo, especialmente escrevendo para um blog, é bem mais tranqüilo. A curiosidade daquele cliente pode ser também a sua, então, aí está um breve comentário sobre o livro Anatomia da diferença.
Há três aspectos que considero importantes nesse novo livro:
Poucas pessoas sabem que há uma história milenar conduzindo o pensamento, os conceitos e as práticas sociais, religiosas, educacionais e políticas que envolvem a diversidade funcional. Acredita-se que as várias diferenças funcionais são meras conseqüências de doenças, acidentes e, pasmem, até mesmo castigo divino. Daí a importância de um texto que expõe com clareza e sensibilidade as origens e os desdobramentos do que hoje parece ser apenas fatos isolados ou tragédias pessoais.
Um segundo aspecto igualmente importante é a abrangência que a diferença funcional adquire quando é discutida e tratada como um fenômeno próprio da natureza humana, porém agravado pelas práticas sociais, políticas, religiosas, educacionais etc. Aquilo que parecia ser uma realidade adversa, exclusiva de uns poucos, torna-se uma realidade que alcança a todos em algum momento da vida. Gosto do exemplo da rampa de acesso para ilustrar este aspecto: a rampa que me atende hoje por ser usuário de uma cadeira de rodas (minha diferença funcional é uma paraplegia) atende também à mãe que empurra o carrinho de bebê, atende aos que estão temporariamente funcionando de forma diferente, dependendo de um instrumento qualquer (bengala, andador, ou mesmo uma cadeira de rodas) e atende aos idosos que, via de regra, preferem uma rampa, a ter que subir escadas. Trocando em miúdos, a rampa que atende a um cadeirante hoje, será útil para todos em algum momento da vida.
O terceiro aspecto é talvez o mais relevante. Praticamente tudo o que se sabe sobre diversidade funcional foi produzido por pessoas que não têm qualquer experiência direta com uma diferença funcional. Os conceitos, as teorias, as explicações, orientações e, conseqüentemente, os textos, são em sua maioria, produzidos por técnicos da área de saúde, educadores, pesquisadores ou curiosos que olham as diferenças funcionais “de fora”, sem qualquer experiência vivencial direta. Anatomia da diferença: Normalidade, deficiência e outras invenções é um livro produzido por alguém que convive com a diferença, ou seja, experimenta na carne e no cotidiano o que é a diferença funcional. Esta experiência direta, aliada ao conhecimento teórico, confere ao livro um caráter realmente diferenciado.
Anatomia da diferença é mais que um livro. É, de fato, uma nova abordagem daquilo que a sociedade conhece como “deficiência”. Depois de ler o livro certamente você duvidará do seu status de “pessoa normal”.
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