domingo, 30 de novembro de 2008

Entre diferenças e diferenças

Diferença é uma palavra muito comum no vocabulário de todos. Para mim, mais que uma palavra comum, diferença é uma idéia e um conceito. Em meu primeiro livro* uso e abuso do termo. A pergunta “Que diferença faz?” é aplicada a diversas áreas da vida, como corpo, vida, morte, sofrimento, diferença (olha a palavrinha aí...), sexualidade etc. De fato, a pergunta (que diferença faz?) é aplicada às diversas facetas da vida de uma pessoa comum, no geral, e às pessoas com diferença funcional, em particular.

Ultimamente, discutindo os novos termos – tema central deste blog –, a palavra diferença tem sido ainda mais recorrente. Tenho sido questionado sobre o fato de sermos todos diferentes, como se isto não fosse uma condição óbvia. Se há algo em que todos somos iguais, é exatamente no fato de sermos todos diferentes.

Apesar da diferença que nos assemelha, há algo que merece destaque entre tantas diferenças: Sim, somos todos diferentes, mas há algumas diferenças que são estigmatizadas pela sociedade... Esta é a questão central!

Especialmente as diferenças físicas, religiosas, sexuais e étnicas são destacadamente discriminadas. Vejamos alguns exemplos focais:

Pessoas com diferença funcional, seja física, visual ou lingüística, são discriminadas no mercado de trabalho.

Pessoas com orientação sexual diferente (que compõem a diversidade sexual) são discriminadas; em nosso país, lamentavelmente ainda há inúmeras ocorrências de brutal violência contra os gays.

Ao longo dos séculos, as diferenças religiosas produziram – e ainda produzem! – conflitos sociais e guerras. O terrorismo que assola o mundo tem como pano de fundo um conflito religioso.

Os conflitos étnicos e raciais (diferença étnica) estão por toda parte. Merece destaque o racismo histórico e ainda comum no Brasil, mas também em países considerados desenvolvidos, como os EUA e a França.

Por outro lado... Ninguém é discriminado, perseguido ou morto por depender de remédios para fazer funcionar seu intestino. Ninguém enfrenta problemas sociais por ser notívago, mal-humorado, alegre, tímido ou inconveniente. Da mesma forma, ninguém perde o emprego por ter olhos azuis, já a cor da pele... (esta diferença é discriminada!). Se um casal está ‘grávido’ e desempregado, o homem até pode encontrar um trabalho, mas a mulher... É a diferença de gênero... Emprego para uma grávida? Só depois de desmamado o pimpolho. E olhe lá!

Estes exemplos servem para clarificar nossa consciência e ampliar nossa compreensão acerca das diferenças. Sim, somos todos diferentes! Mas algumas diferenças são socialmente aceitas, outras, nem tanto. Outras tantas, absolutamente, não são nem mesmo toleradas. Por outro lado, algumas diferentes são privilegiadas... mas isto é outra história

O fato de sermos todos diferentes em nada invalida a nova terminologia que propomos. Sim, somos todos diferentes, mas uma diferença funcional possui história, características e implicações que em nada se assemelham às diferenças não discriminadas histórica e socialmente. Ao contrário, dizer que funcionamos de forma diferente não nos discrimina, não nos inferioriza, não nos estigmatiza como os termos aplicados comumente à diversidade funcional.

Os termos “deficiência”, “deficiente” e “pessoa com deficiência”, por sua vez, mesmo quando ditos com respeito, delicadeza e carinho reportam a uma condição indigna, inferior e depreciativa. O real sentido desses termos podem ser vistos na vida cotidiana, nas escolas, no transporte público, nas oportunidades de trabalho, no (des)respeito aos direitos e numa cidadania que, infelizmente, ainda não pode ser considerada plena.

Talvez você seja um cadeirante, como eu. Ou um cego, ou surdo. Ou possui alguma característica que torna você uma pessoa diferente da maioria da sociedade... se eu estivesse no seu lugar, termos como “deficiente” e “deficiência”, se aplicados a mim, certamente machucariam meus ouvidos.

* Que diferença faz? Escolhas que marcam... (Ray Pereira, Casa do Psicólogo, 2003)

Uma dica:
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http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=75291029
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Palavras-chave: diversidade funcional; diferença funcional; pessoas com deficiência; pessoas portadoras de deficiência; pessoas deficientes; deficiência física.

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