quarta-feira, 20 de maio de 2009

Orientação aos Pais - parte I

Legendas do vídeo “Orientação aos Pais - parte I”

Ter filhos é o maior sonho de muitos casais. É um sonho relativamente fácil de realizar, e quando se pensa no filho que um dia vai chegar, o casal deseja, antes de mais nada, que a criança chegue com saúde e “perfeita”. Se a chegada de uma criança muda a rotina da família, a chegada de uma criança com alguma diferença funcional muda completamente a vida dos pais e da família. O choque inicial é muito natural, afinal vivemos em uma sociedade que infelizmente não sabe conviver com as diferenças. Mas esta realidade precisa mudar. E nós – eu, você, nós todos – somos agentes dessa mudança.

Se você possui uma criança que nasceu diferente do esperado, há muito que aprender com essa experiência... Tenho certeza que grande parte da sua angústia foi produzida por uma imagem negativa acerca das pessoas com diferença funcional. Jogue fora essa imagem negativa; ela não ajuda em nada o seu relacionamento com essa criança. Um olhar negativo torna a realidade mais difícil e mais dura do que ela é de fato.

Percebo o quanto os pais ficam perdidos, sem saber como agir, sem saber o que fazer. E por estarem perdidos, tratam seus pequenos apenas como doentes, ou como uma criança especial. De fato, qualquer criança é especial. Por isso, quando uma criança é tratada como especial apenas por ser diferente, ao invés de atenção ela está recebendo sobre si um estigma.

A infância das crianças com diferença funcional é sufocada por uma rotina de cuidados que são, até certo ponto, necessários. Mas, há também muitos excessos produzidos pela superproteção, medos e pela insegurança dos pais. Há uma variedade de profissionais preparados para promover qualidade de vida e um desenvolvimento saudável para os pequenos, mesmo nos casos mais complexos. Mas o suporte técnico e profissional não é tudo... Aliás, o resultado desse suporte depende muito do apoio emocional e lúdico que a criança precisa ter em casa.

Pode parece óbvio, mas eu preciso dizer: Um criança com diferença funcional precisa ser aceita, acolhida e amada. É fundamental para qualquer criança sentir que é amada, que é aceita, que é importante. Dessa forma, sua criança vai se sentir especial, no sentido mais belo do termo. Ser uma criança especial por ser amada e aceita é bem mais digno do que ser especial apenas por ser diferente.

Uma criança amada se desenvolve melhor. Uma criança amada aprende melhor. Uma criança amada é uma criança feliz!

Além de ser aceita e amada, a criança precisa brincar, a criança precisa ser criança. Uma diferença funcional não deve ser tomada como uma doença, ou como algo que impeça a criança de ser criança. Se seu filho não brinca, o problema pode estar em você, e não nele. Não importa o rótulo que a escola, a medicina ou a sociedade deu para seu filho, ele é uma criança e como criança ele precisa ter infância.

A rotina de uma criança com diferença funcional muitas vezes é pesada e difícil. Se em meio a essa rotina a criança puder ser criança, certamente a vida será divertida e o mundo parecerá menos hostil aos olhinhos dela. Observe sua criança enquanto ela brinca... você se sentirá mais leve ao perceber que há muita vida pulsando naquele corpinho que você acha tão frágil.

Criança que brinca torna-se mais espontânea, mais independente. Criança que brinca tem mais saúde. E como nada no mundo vale mais que um sorriso de criança, uma criança que brinca sorri mais.

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Descrição do vídeo:
A criança com diferença funcional precisa ser aceita e amada. Além do apoio profissional e técnico. O suporte emocional e lúdico deve fazer parte da rotina da criança.
Apresentação: Ray Pereira
Interpretação: Adriana D. Pereira
Ray Pereira é Psicólogo, mestre em Psicologia Social e doutor em Saúde Pública.
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Para recomendar esse texto clique no envelope abaixo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Qual é o seu sonho?


Legendas do vídeo “Qual é o seu sonho?”
http://www.youtube.com/watch?v=KiWJIDSXDHI

Oi! Eu tenho uma pergunta pra você: Qual é o seu sonho?
Se for necessário, acione Legenda Oculta.

Se você possui uma diferença funcional, certamente já te perguntaram “o que aconteceu com você”. Certa vez, respondendo a essa mesma pergunta, quando revelei o que havia acontecido, perguntaram-me se o acidente me impediu de realizar algum sonho, afinal eu tinha apenas 20 anos quando tudo aconteceu. É claro que alguns sonhos ficaram para trás, mas outros resistiram ou foram reinventados. E novos sonhos foram nascendo, já que ninguém perde a capacidade de sonhar.

As diferenças funcionais costumam ser encaradas como fatos que aniquilam todos os nossos sonhos. Para mim, e para muitos outros, essa percepção negativa é falsa. Nossas diferenças funcionais não destroem nossos sonhos, embora um ou outro pareça impossível em função de limitações que extrapolam a nossa vontade, como as características ou limitações do corpo, os obstáculos do meio físico, a exclusão social, ou os limites da própria ciência.

Abolir as limitações do corpo é um sonho acalentado por muitos e, ao que tudo indica, esse sonho há de se realizar, tendo em vista os recentes avanços tecnológicos. O que poderia ser apenas um sonho torna-se um pesadelo para muitos que deixam de viver intensamente a vida para tão somente esperar que o sonho de voltar a ser como antes, de alguma forma, se realize. Há pessoas com diferença funcional que adiam tudo para o futuro acreditando que para se viver, sonhar e realizar, é preciso antes modificar o padrão de funcionamento do próprio corpo. Bem, seja por milagre, seja pelo avanço das ciências, ou pelo que for, onde quer que esteja ancorada nossa esperança, crença ou desejo, a espera pode ser longa e pode até não acontecer da mesma forma para todos.

Depois de mais de duas décadas como cadeirante, aprendi que não é a condição física que paralisa uma pessoa. Aprendi também, e estou convicto, que uma cadeira de rodas não atropela nem destrói nossos sonhos. Reconheço e sei o quanto é difícil superar barreiras físicas, econômicas e sociais. Mas, nenhuma dessas barreiras é tão poderosa quanto as barreiras psicológicas criadas pela própria pessoa. As barreiras internas, estas sim, podem destruir sonhos e paralisar a vida de qualquer pessoa.

Acidentes de carro parecem trazer a morte de carona, por isso sobreviver a um acidente deveria ser entendido como um renascimento. Nós, supostas vítimas, determinamos o sentido desses incidentes. A partir deles, muitos se fecham e vivem presos ao passado, enquanto outros se erguem ávidos por novos sonhos, novos vôos e fazem a vida acontecer.

Partir para novos vôos, traçar novas metas ou sonhar novos sonhos é sempre possível, mesmo para aqueles que um dia se fecharam para a vida. Quando deixamos de acreditar em nossos sonhos, o mais simples deles pode parecer ousado demais, ou mesmo impossível, como se nossa capacidade de realização estivesse aniquilada.

Muitos sonhos se perdem não por serem impossíveis ou absurdos. De fato, sonhar é bem mais simples do que realizar. Construímos nossos sonhos sem o menor trabalho, mas, é muito pouco provável que algum sonho se concretize espontaneamente. É tarefa minha e sua a realização de qualquer sonho. Se o acaso, as circunstâncias ou mesmo a sorte cooperarem, ótimo! Mas, nem sempre é assim.

Alguns incidentes da vida podem apagar um sonho ou outro. Mas, independente das circunstâncias, muitos sonhos se perdem por absoluta falta de confiança, determinação e trabalho. Nossos sonhos podem, sim, se transformar em metas, em projetos, em aspirações e ideais. E o que faz mesmo diferença é exatamente a confiança, o empenho e a determinação em busca de realizações.

Usar uma diferença funcional como justificativa para não sonhar não cola, pois sua plena capacidade de sonhar e realizar está intacta em algum lugar aí dentro de você. A vida quer dar muito mais a você. E ela pergunta todos os dias: Qual é o seu sonho?

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Autoestima e diferença funcional

Tenho recebido e-mails e scraps comentando os dois últimos vídeos postados no Youtube. Algumas dessas mensagens eu gostaria de ver publicadas no fórum da comunidade Diversidade Funcional, mas nem sempre isso ocorre. Algumas pessoas preferem fazer contato de forma mais reservada e isto precisa ser respeitado.

Depois de ler os e-mails e scraps achei que seria interessante postar as legendas dos vídeos “Qual é o seu sonho” e “Autoestima e diferença funcional”. Há dois outros vídeos cujo conteúdo foi baseado em textos postados anteriormente no blog (“Vamos jogar “deficiente” no lixo” e “Entre diferenças e diferenças”). Os interessados poderão copiar o texto original.
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Legendas do vídeo "Autoestima e diferença funcional"

http://www.youtube.com/watch?v=911BSHwaQP8

Olá! Nós preparamos para você um vídeo sobre autoestima e diferença funcional.
Se for necessário, acione Legenda Oculta.

Falar sobre nossos sentimentos não é nada fácil. Falar sobre o sentimento que temos acerca de nós mesmos é ainda mais desconfortável. De todos os sentimentos humanos, a autoestima é o que há de mais básico, pois dela depende a qualidade de todos os outros sentimentos.

Autoestima, antes de mais nada, é o valor que eu próprio me dou, é a estima que eu tenho por mim, é a consciência que tenho do meu valor, da minha dignidade.

Uma boa autoestima facilita o desenvolvimento da autoconfiança e fortalece o amor próprio. Esses dois elementos são verdadeiras ferramentas para se enfrentar a vida. O primeiro deles, a autoconfiança, é uma segurança íntima na própria capacidade de pensar, escolher, decidir e agir. O segundo elemento, o amor próprio, é um senso básico de respeito por si mesmo que faz uma pessoa considerar-se importante, especial e capaz de realizar-se como pessoa. Com autoconfiança eu me lanço e acredito em mim. Com amor próprio eu cuido de mim, me valorizo e me respeito.

Nossa autoestima pode ser percebida na forma como encaramos a vida e reagimos às contingências e circunstâncias que nos cercam. Problemas familiares, doenças, crises e frustrações pessoais podem comprometer nossa autoestima se ela não estiver bem estruturada. Mas, se temos uma boa autoestima, não perdemos a noção do nosso valor mesmo quando estamos sufocados pelas circunstâncias da vida.

Com nossa autoestima frágil, em situações adversas podemos nos acomodar, ou agir apenas para evitar que o sofrimento aumente, mantendo assim o desconforto em níveis suportáveis. Por outro lado, com uma autoestima elevada, as ações serão sempre positivas e transformadoras em favor da própria vida e do bem-estar pessoal.

Agora vamos pensar um pouco sobre autoestima e diferença funcional. Quando digo “diferença funcional”, eu me refiro às situações que a sociedade chama de “deficiência”. Poucas situações abalam tanto a vida de uma pessoa quanto uma diferença funcional. Qualquer evento que altere a harmonia do corpo toca diretamente a autoestima. As seqüelas provocadas por acidentes e doenças podem alterar a forma como o corpo funciona. Quebrada a harmonia, a relação com o corpo ficará comprometida.

Quando um evento altera a estrutura e o funcionamento do corpo, isto, sem dúvida, influencia a vida pessoal, afetiva, sexual, familiar, profissional e social. E é claro que a autoestima também fica abalada, afinal, vivemos em uma sociedade que ainda não aprendeu a respeitar e integrar plenamente as pessoas com diferença funcional. Mas, ainda assim, ainda assim é possível desenvolver um sentimento positivo acerca de si, fortalecer a autoestima e reinventar a própria história. Afinal, não podemos controlar os fatos, mas podemos decidir, por nós mesmos, o que fazer com os fatos, com o nosso corpo e com a nossa vida.

A expectativa social acerca da diferença funcional é sempre negativa. Por isso pode parecer impossível ter uma boa autoestima se temos uma diferença funcional. A relação entre baixa autoestima e diferença funcional é tão falsa quanto dizer que todo cadeirante é revoltado.

Conheço bem de perto histórias que comprovam que a autoestima pode ser fortalecida mesmo quando tudo parece perdido. São histórias de pessoas que passaram a se conhecer mais e a amar mais a vida, numa demonstração clara da força do nosso querer. Mas, há também histórias amargas, de pessoas que não conseguem desenvolver um sentimento positivo sobre si, e perdem a vontade de viver.

Quando penso e reflito sobre tudo isso, percebo com muita clareza que para se ter um sentimento positivo de si, para se gostar e ter uma boa autoestima é preciso compreender que o meu valor como pessoa, como ser humano, não pode ser medido a partir da maneira como funciona o meu corpo.

Precisamos compreender que a vida, apesar de tudo e apesar de nós mesmos, é bela, é muito curta, e precisa ser vivida. Quando gostamos de nós do jeito que somos, a vida se torna mais leve, e vivemos melhor.

E a vida continua, mesmo quando um ou outro escolhe ficar para trás.

Eu sou Ray Pereira. Minha intérprete é Adriana D. Pereira.
Visite o blog Diversidade Funcional: http://diversidadefuncional.blogspot.com